Saudosos carnavais da “Garbosa” (Parte 1)
Por Nilson Magno Baptista
Nasci na “Coronel José Dutra”, na época conhecida como “Rua do Sarmento”, nossa principal via pública. Era a década de 1950 e tive o privilégio de testemunhar, ainda muito criança, os memoráveis desfiles carnavalescos que na época eram ali realizados. Pela Coronel José Dutra desfilavam nossas escolas de samba, ainda com um número bastante reduzido de participantes, mas que se apresentavam com garbo e entusiasmo impressionantes. Eu vibrava quando a Unidos do Caxangá se aproximava da “Ponte do Jeremias”, vindo em direção à Praça Dr.Carlos Alves, com aquele seu característico rufar de tambores firme e cadenciado, que fazia meu coração bater mais forte. Nesse tempo eu tinha por volta de oito/nove anos. Outra lembrança inapagável em minha memória se refere às espetaculares “Batalhas de Confete”, que o Jornal “Voz de S.João” classificava como “sesquipedais”, cujo significado é: “extremamente grandes, descomunais, imensas”, e isso fazia sentido devido à grande quantidade de confetes e serpentinas que era lançada sobre os foliões. Era um volume tão grande que chegava à altura de quase cinquenta centímetros, cobrindo os paralelepípedos (formato das pedras) do calçamento.
Aqueles confetes e serpentinas as crianças – incluindo eu, é claro – recolhiam do chão e lançavam novamente sobre as pessoas. As marquises e sacadas dos prédios em toda a extensão da rua ficavam repletas de moradores e entusiastas das “Batalhas”, que não economizavam na quantidade de confetes e serpentinas adquiridos no comércio da cidade, consumindo todo seu estoque. Via-se também pelo chão frascos vazios de “Lança-Perfume”, cuja venda naquela época era liberada. Assim, a “Rua do Sarmento” ficava extremamente colorida e cheirosa.
No final da década de 1970, como colaborador do nosso tradicional órgão de imprensa, a “Voz de S.João”, fui responsável por uma grande polêmica ao escrever um comentário em que eu dizia: “A Rua do Sarmento já não comporta o grande número de foliões que ali se acotovelam para assistir aos desfiles e participar das “Batalhas de Confete”, e que “deveríamos, sem perda de tempo, encontrar um novo local.” A mudança de local forçosamente acabou acontecendo em 1980 (se não me engano), quando o prefeito Antônio Cavalheiro inaugurou o “Calçadão da Coronel José Dutra”, por ocasião dos festejos relativos ao Centenário da emancipação política definitiva do nosso município.
Outros locais foram testados como a nova “passarela” do carnaval, passando pela Rua Domingos Henriques de Gusmão; pelo lado de cima da Praça Barão do Rio Branco, até chegar à atual Avenida “Tancredo Neves”, de onde não saiu mais.
Os clubes carnavalescos
O clube com o qual eu tinha uma ligação mais forte era o Novo Clube Trombeteiros de Momo, talvez por influência do meu avô, Alcibíades de Araújo Porto, que fez parte de sua diretoria por vários anos. No “Trombeteiros” curti muitos e muitos eventos, mas o que eu gostava mesmo era dos bailes carnavalescos. Que maravilha poder participar da entusiasmada família Trombeteira! Quanto ao “Democráticos”, muitos dos meus amigos e colegas de infância eram filhos de adeptos do “Carijó”, como era conhecido o clube, por causa da imagem de um GALO bordada em seu estandarte, ostentando como cores oficiais o preto e o branco. Por isso eu também frequentava seus bailes, tão grandiosos e animados quanto os que eram promovidos pelo meu clube do coração, o “Trombeteiros” que ostentava como cores oficiais o vermelho e o verde,tendo como símbolo a imagem de uma ÁGUIA. Um fato muito interessante é que os adeptos do “Trombeteiros” e “Democráticos”, na época do carnaval, além de outras ocasiões, frequentavam os dois clubes.
O outro clube com o qual eu sempre simpatizei, mas não frequentei assiduamente como os demais, era o Operário, onde também tive muitos amigos e me sentia muito bem com isso, embora lá eu tenha frequentado um número menor de vezes. No Trombeteiros e Democráticos passei praticamente todos os carnavais, pelo menos enquanto eram realizados os bailes que, com o passar do tempo, deixaram de acontecer, dando lugar ao carnaval de rua.
Uma lembrança muito agradável que também tenho é da movimentação de foliões que acontecia quando eles cruzavam a Praça Coronel José Braz, de um lado para o outro, compondo pequenos grupos que visitavam os clubes rivais – no bom sentido – levando consigo os respectivos estandartes. As orquestras, hoje denominadas “bandas” eram compostas de grandes músicos da cidade e executavam músicas carnavalescas compostas por grandes nomes da música brasileira. O som não era pesado, como o das aparelhagens de hoje, e por isso não chegava a causar incômodo aos moradores do entorno, assim como aos pacientes internados no Hospital São João. Pelo contrário, as músicas tocadas nos clubes situados na Praça do Coronel eram bem-humoradas e agradáveis de se ouvir. Deixaram saudade!
O lado ruim é que, lamentavelmente, houve um tempo em que desfiles eram realizados pelas ruas da cidade durante os quais os clubes (Trombeteiros e Democráticos) exibiam cartazes e alegorias criticando uns aos outros, como provocação, mas esse é um capítulo à parte da história, porque essas críticas muitas vezes chegaram a passar dos limites, gerando brigas e desentendimentos que, felizmente ficaram “enterradas” no passado.
Continua…
No Comments