Pedir perdão faz bem à alma

Pedir perdão faz bem à alma

Por Nilson Magno Baptista

Em 1979 eu era ainda muito jovem, cursava a Faculdade de Direito da UFJF (Universidade Federal de Juiz de Fora) e uma de minhas grandes paixões, além do Direito, é claro, era o Rádio. Tinha um amigo radialista que trabalhava na antiga Rádio Difusora de nossa cidade, o Oswaldo Tito, que comandava um programa de variedades chamado “Tarde Maravilha”. Esse amigo me convidou para algumas participações em seu programa. Nessas participações eu fazia comentários sobre a administração pública e nessa época o prefeito de São João Nepomuceno era o Sr. Antônio Cavalheiro.

Certo dia, no programa do amigo Osvaldo Tito, fiz um comentário afirmando que o prefeito estaria faltando com a verdade, pois dizia estar realizando o calçamento da Rua Alcebíades Valente, mas, na realidade, nem um só caminhão de pedras teria sido depositado no local da citada obra. Pois bem, no mesmo dia a cidade toda comentava a declaração que eu havia feito ao microfone da Difusora e o assunto chegou ao conhecimento do prefeito.

No dia seguinte, no horário em que era levada ao ar a edição do dia do programa “Tarde Maravilha” eu estava na residência de um amigo, onde o aparelho estava ligado e, então, ouvimos que o Sr.Antonio Cavalheiro concedia uma entrevista a Osvaldo Tito em que dizia: “Ontem, um jovem universitário são-joanense, disse aqui neste programa, que não seria verdade que estávamos realizando o calçamento da Rua Alcebíades Valente, no bairro Santa Terezinha. Senhores ouvintes, esse rapaz é nascido e criado nesta cidade, mas pelo visto não a conhece direito, pois a citada rua já está em fase final de calçamento, como os moradores podem testemunhar”. Quando o prefeito disse aquilo fiquei desesperado. Não me perdoava por ter acreditado numa informação falsa, fornecida por alguém que talvez tenha usado minha inexperiência para prejudicar a imagem do Sr. Antônio. Eu deveria ter ido ao local para conferir a veracidade da informação! Mas não fui, e isso era errado!

Imediatamente me dirigi ao estúdio da Rádio Difusora, que na época ficava na Rua Dr. Péricles Vieira de Mendonça, no prédio do Sindicato Rural. Quando lá cheguei deparei-me com alguns assessores e correligionários do prefeito, mas não me intimidei. Entrei no estúdio, interrompi a entrevista, arrebatei o microfone das mãos do Sr. Antônio Cavalheiro e, diante dos olhares assustados das pessoas que ali se encontravam, disse em alto e bom som: “Me perdoe Senhor Prefeito! Prometo-lhe que nunca mais farei nenhum comentário sobre quem quer que seja sem antes me certificar de sua veracidade”.

Daquele dia em diante nos tornamos amigos e tivemos uma convivência pacífica durante vários anos até sua morte. E hoje posso dizer que, em relação a esse inesquecível episódio tenho a alma leve e a consciência tranquila. Por isso, sempre digo, sem medo de errar, que perdoar é sublime e próprio dos homens de bom caráter, e o mesmo se pode dizer daquele que sabe reconhecer o erro e pedir perdão! Hoje não sou mais um jovem e sim um homem de mais de 65 anos que jamais esqueceu essa grande lição que a vida lhe proporcionou.

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