” Antes de Pelé, o melhor!”
Temperamental ou craque com espírito de vitória?
Não importa! O importante é que Heleno de Freitas foi um espetacular centroavante que além de marcar muitos gols também servia os companheiros com passes certeiros, os quais, invariavelmente, terminavam em gols.
Na primeira metade dos anos 1930, ainda residindo em São João Nepomuceno, Heleno deu início a sua carreira vestindo a camisa alvirrubro do Mangueira Futebol Clube. Já na segunda metade, desta mesma década, e morando com familiares em Copacabana, no Rio de Janeiro, teve rápida passagem pelo Tricolor das Laranjeiras, em 1938.
No Botafogo, atuou de 1939 a 1947, tendo a missão de substituir o artilheiro Carvalho Leite, tetracampeão carioca nos anos de 1932/33/34/35. Aliás, o Botafogo é o único time carioca tetracampeão desta competição.
Neste período, Heleno foi artilheiro do campeonato carioca de 1942 ao assinalar 28 gols. Marca nunca ultrapassada, sequer igualada, por nenhum outro jogador que vestiu a camisa do Botafogo. Vale destacar que Heleno teve sucessores como: Dino da Costa, Paulo Valentim, Quarentinha, Amarildo, Roberto Miranda, Jairzinho, Túlio Maravilha, entre outros. Túlio foi o que mais se aproximou desta marca ao assinalar 27 gols no carioca de 1995.
Em 1944, Heleno viveu um momento mágico. Era o principal jogador do Botafogo e obteve a sua primeira convocação para a Seleção Brasileira. Os próximos três anos foram de ouro para o craque. Tricampeão brasileiro com a seleção carioca e duas vezes vice-campeão com o selecionado brasileiro nas disputas dos Sul-Americanos(atual Copa América) de 1945/1946, no Chile e Argentina, respectivamente.
Vale destacar que no Sul-Americano do Chile Heleno foi o artilheiro da competição ao marcar 6 gols. Retornando ao Brasil, devido ao seu desempenho, recebeu de Ari Barroso o apelido de “diamante branco”, pois já existia o “diamante negro”, Leônidas da Silva.
Com a camisa da seleção brasileira, Heleno atuou em 18 jogos e assinalou 15 gols.
Em 1947, da mesma forma dos anos anteriores, Heleno termina o certame sem conquistar títulos, e alguns torcedores começaram a “suspeitar” que, “com Heleno em campo o Botafogo nunca seria campeão”. Mas, boa parte da torcida dizia o seguinte: “ruim com ele, pior sem ele”. Na dúvida, em 1948, Carlito Rocha, presidente do clube, negocia o craque com o Club Atlético Boca Juniors da Argentina, na maior transação financeira do continente, até aquela época, envolvendo um jogador de futebol.
Neste mesmo ano, sem Heleno, o Botafogo conquista o campeonato carioca. Fica a pergunta: esta história de “superstição” do torcedor do Botafogo teria começado aí? Realmente, o Botafogo só foi campeão porque o Heleno não estava no time?
No Botafogo, Heleno realizou 233 partidas marcando 204 gols.
Meados de 1948, Campeonato Argentino em andamento, Heleno estreia contra o Club Atlético Banfield. O Boca venceu por 3×0, com dois gols do Heleno. Mas, teria sido dois ou três gols do Heleno? O saudoso Luís Mendes, “o comentarista da palavra fácil”, que transmitiu a estreia do craque brasileiro, tem a seguinte versão:
“Eu fiz a transmissão como único locutor esportivo brasileiro ao lado do meu repórter, o saudoso Geraldo Romualdo da Silva, mineiro da cidade de Piranga. Então, o Geraldo foi quem abriu os caminhos para que fizéssemos esta transmissão. Dez ou quinze minutos de jogo, Mário Boyé, excelente ponteiro direito, foi à linha de fundo e centrou. Heleno pegou um sem pulo, estufando as redes do goleiro. Era o primeiro gol do Boca. Daí a pouco, Heleno pega outra bola na meia lua da grande área, dá um drible no cidadão que se lhe apresentou, e, de perna direita, colocou a bola no ângulo. Segundo gol de Heleno, 2 a 0 Boca. Heleno, então, havia conquistado Buenos Aires. E o terceiro gol foi um corta luz dele. Pérsia, lateral do Boca e também da Seleção Argentina, bateu uma falta; o goleiro saiu para interceptá-la e Heleno entrou para tentar desviá-la. Quando ele percebeu que o goleiro ficou “titubeante”, deixou a bola passar. A bola passou por ele, mas, também, passou pelo goleiro e entrou. Foi um gol indireto do Heleno de Freitas, que até estas coisas fazia. Ou seja, Heleno fez um gol de corta luz.
Bom! De quem teria sido o gol? Do Pérsia que chutou e a bola entrou diretamente no gol? Ou do Heleno que, por outro lado, a bola só entrou por causa do corta luz que ele fez e enganou o goleiro?
Não importa! O importante é que Heleno de Freitas foi um dos maiores artilheiros da história do Futebol Sul Americano.”
Heleno atuou em 17 partidas pelo Boca, marcando 7 gols.
Em 1949 Heleno volta ao Brasil para conquistar seu único título de campeão carioca ao vestir a camisa do Vasco da Gama. O “Expresso da Vitória”, apelido dado ao excelente time do Vasco, levantou o caneco de forma invicta. Neste triunfo, Heleno atuou em 12 partidas e marcou 10 gols.
Devido a segunda guerra mundial as copas de 1942 e 1946 não aconteceram. O mundial de 1950 seria a chance do craque galã jogar uma Copa do Mundo. Mas, um desentendimento, ainda no Vasco, com Flávio Costa, treinador do selecionado brasileiro, terminou com o sonho da convocação.
Um dia após a derrota do Brasil para o Uruguai, na final da Copa, Heleno teria dito a seguinte frase: “se eu estive lá o Brasil não teria perdido”. Com relação a este fato, João Batista Furlan, meu tio, conta a seguinte passagem:
“Toda segunda-feira, alguns rapazes integrantes da Orquestra Eldorado se reuniam no Bar Dia e Noite(em São João Nepomuceno-MG). Então, um dia após a trágica derrota do Brasil, como era de costume, estávamos no Bar Dia e Noite. Na oportunidade, estávamos assentados com o Jura quando o Heleno chegou. O Jura era cego, então dissemos a ele que o Heleno havia chegado.
Imediatamente o Jura disse:
– Ô Heleno! Vem cá!
Se um de nós o chamasse, ele não viria, mas o Heleno gostava do Jura e então veio. E o Jura falou:
– Assenta aí, vamos conversar. Heleno, e se você estivesse jogando?
Heleno respondeu:
– E se eu estivesse jogando, o Brasil seria campeão, porque eu quebrava o Obdulio.
Jura, então, perguntou:
– Campeão como, rapaz? Você quebrava ele e seria expulso!
– Não teria problema, Jura. Eu seria expulso, mas o Ademir ganhava o jogo sozinho. Eu não estaria em campo, mas o Obdulio também não. O Ademir só não ganhou o jogo porque ficou com medo dele.”
Com 30 anos, e na Colômbia desde março 1950, Heleno fecha o ano de forma discreta e retorna ao Brasil em 1951 para uma rápida passagem pelo Santos da Vila Belmiro, apenas um treino, quando, em seguida, desembarcou no Rio de Janeiro para defender o América Futebol Clube.
No dia 04 de novembro de 1951, Heleno veste a camisa do América pela primeira e última vez, para pisar o gramado do Maracanã pela primeira e única vez como jogador profissional. Irreconhecível, Heleno nem de longe parecia aquele jogador clássico, decisivo e elegante de outrora. Apagado em campo, não termina a primeira etapa, ao sair expulso de campo. O São Cristóvão venceu pelo placar de 3×1. Encerrava-se ali uma trajetória marcada por glórias, glamour e dramas.
Segundo o saudoso Sebastião Matos, jogador de rara categoria e goleador do futebol de São João Nepomuceno e região, Heleno ainda teria participado de um jogo em Rochedo de Minas, conforme relato abaixo:
“Eu joguei com Heleno de Freitas! Foi em 1952, na cidade de Rochedo de Minas, num jogo organizado pelo Deco Mendes e o Cabo Mendes. Neste jogo de Rochedo nós fomos convidados pelo João Jorge. Ele promoveu um jogo e no mesmo dia aconteceu uma festividade religiosa, e este foi o último jogo que o Heleno participou. Eu lembro direitinho porque no primeiro tempo nós perdíamos de 1 x 0. O gol aconteceu quando o Zé Descoberto pegou a bola e começou a fazer embaixadinhas, e o cara do Guarani tomou a bola dele e fez o gol. Aí tiraram o Descoberto. O Zé era o melhor controlador de bola que tinha por aqui, mas jogo mesmo ele tinha pouco… Eu joguei de centroavante ao lado do Heleno, e nós vencemos pelo placar de 3×1. O Heleno correu pouco e só queria bola no pé. Quando ela chegava, ele colocava na frente e soltava a perna. Foi assim que ele fez dois gols, e eu fiz um. Acabada a partida, foi uma festa só. Naquela época o time do Rochedo não era tão temido, e vencer o poderoso Guarani foi uma façanha e tanto.”
A partir daí, já com sintomas de confusão mental, somente mais tarde foi descoberto que Heleno havia contraído doença que afetou o seu sistema nervoso. A situação se agravou e, em 1954, o craque seguiu para a Casa de Saúde São Sebastião, em Barbacena-MG, de onde saiu em 08 de novembro de 1959 para ser sepultado em São João Nepomuceno-MG, sua Terra Natal.
Neste 12 de fevereiro, se estivesse vivo, Heleno de Freitas estaria completando 101 anos.
Obrigado Heleno por levar e elevar o nome de São João Nepomuceno pelo Brasil e pelo Mundo.
Texto: Nei Medina.
Foi um galã de chuteiras. Temido pelos adversários e adorado pelas mulheres.
Abraço a todos e até a próxima se Deus quiser!
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