“Em Algum Lugar do Passado” – Alírio Guazi, o Bassu, destaque do Fluminense em sua primeira vez na Europa
Foto: Marcio Pinho Pereira
Alírio Guazzi, o Bassu, nasceu em 14 de agosto de 1934 em São João Nepomuceno, e era filho de Carlito Ricardo Guazzi e Aguinalda Andrade Guazzi.
No primeiro trimestre de 1952, o jornal “Voz de São João” trazia a seguinte manchete:
“Perde o Mangueira Futebol Clube um elemento de grande valor. Bassu, o valoroso half-back do clube rubro, nas fileiras do América F.C. de Belo Horizonte.
O técnico Heitor Matos que prestou os seus serviços ao Mangueira, no departamento de natação, tendo se transferido para Belo Horizonte, levou as melhores impressões sobre Bassu, o menino revelação de nossos campos.
Com o consentimento de seus pais, pois é ele menor de idade, seguiu Alírio Guazzi (Bassu), para Belo Horizonte, juntamente com o técnico e, pelo que se depreende pela leitura dos jornais belohorizontinos, seus treinos agradaram, tanto assim que já se acha vinculado ao América por 2 (dois) anos, devendo pois ser apresentado em breve aos olhos da “hinchada” belohorizontina.
Não resta a menor dúvida que se aclimatar em Belo Horizonte, Bassu, que se acha em pleno desenvolvimento, será um dos grandes azes de nosso futebol.”
Depois de Heleno de Freitas e Renê Mendonça, Bassu foi quem brilhou no cenário esportivo nacional. Ainda jovem, trabalhou na extinta Fábrica de Tecidos Sarmento como auxiliar de pedreiro. Seu pai, o Sr. Carlito, era pedreiro e prestava serviços para os proprietários da Fábrica. Entre uma obra e outra, Carlito construiu a sede social do Mangueira Futebol Clube.
Sua família residia na Av. Zeca Henriques, paralela ao clube rubro, numa casa de dois andares. Bassu tinha excelente porte físico, sendo muito importante em sua carreira futebolística.
Existem relatos de que, depois do América Mineiro, no final de 1952, Bassu foi levado por Aymoré Fermo para um período de teste no Fluminense. Aymoré tinha bom relacionamento no Tricolor das Laranjeiras pois Zezé Moreira, seu primo, era técnico da equipe profissional. Bassu agradou em cheio e foi contratado para atuar na categoria de aspirantes do clube carioca.
Em sua chegada ao Tricolor, um fato curioso chamou a atenção dos sanjoanenses. Ele foi convidado para treinar contra a seleção brasileira, que se preparava para a Copa de 1954. Como Zezé Moreira era técnico do Fluminense e também comandava a seleção, na oportunidade levou alguns jogadores do Fluminense para um coletivo contra nosso selecionado, e Bassu estava entre eles. Aqui, em São João, alguns torcedores ficaram confusos, achando que Bassu tinha sido convocado para seleção brasileira…
Em 1955, Bassu era um dos principais jogadores do time profissional do Fluminense, e o torcedor gostava do seu estilo de jogo, destacando-se pela boa marcação e ótimo apoio ao ataque.
Bassu, definitivamente, está na história do Fluminense, pois fez parte do grupo que realizou a primeira excursão à Europa em 18 de maio de 1955.
A matéria a seguir foi retirada do Blog do Bolt (João Carlos Boltshauser):
“O time não atravessava um grande momento. No início daquele ano, Zezé Moreira, técnico do Fluminense e da Seleção Brasileira, trocara o Tricolor pelo Botafogo. Gradim, auxiliar de Zezé, comandou a equipe interinamente por alguns meses para depois Russo, ídolo tricolor nos anos 30 e 40, assumir a função em definitivo. Para um time que tinha sido treinado pelo mesmo técnico por quase quatro anos e estava mais do que habituado ao seu sistema de jogo as mudanças não eram tão fáceis. E o resultado foi uma fraca campanha no Torneio Rio-São Paulo daquele ano. Mas nessa altura as excursões à Europa tinham se tornado uma verdadeira febre e já estava mais do que na hora do Fluminense se colocar à prova em uma dessas ‘aventuras’.
A delegação tricolor embarcou na madrugada do dia 18 de Maio de 1955 rumo a Istambul na Turquia assim constituída:
Chefe da delegação: Aloisio Affonseca
Diretor Administrativo: Gaspar Labarthe da Silva
Médico: Newton Paes Barreto
Técnico: Adolpho Milman (Russo)
Massagista/Roupeiro: João de Deus Andrade
Jogadores: Castilho, Veludo, Pinheiro, Duque, Píndaro, Laffayette, Bigode, Bassu, Clóvis, Edson, Victor, Didi, Róbson, João Carlos, Telê, Miguel, Escurinho, Quincas e Waldo.
Após uma viagem cansativa, com escalas em Recife, Dakar e Lisboa, e ainda uma conexão em Roma, a delegação chegou a Istambul onde faria cinco jogos no Estádio Mithatpasa (demolido recentemente para a construção de uma dessas modernas arenas). A estreia aconteceu no dia 21 de Maio, contra o Adalet, e o Fluminense venceu sem maiores dificuldades pelo placar de 4×1, causando boa impressão na torcida turca. Os gols foram marcados por Escurinho, Telê, Didi e Róbson, sendo Didi o destaque da partida.
O jornal carioca “Esporte Ilustrado”, edição 929, de 26 de janeiro de 1956, publicava a seguinte matéria, assinada por Leunam Leite:
“ BASSU: CONSTRUTOR DE PRÉDIOS, DESTRUIDOR DE ATAQUES
É sempre difícil para um jogador novo, conseguir impor-se logo após as primeiras atuações no esquadrão titular. E essas dificuldades se torman maiores quando a sua equipe cumpre uma campanha claudicante, e os companheiros mais experientes falham seguidamente, acarretando novas preocupações para o jovem ‘player’. Muitos valores promissores têm fracassado, ao enfrentar tais obstáculos. Mas a revelação tricolor de 1955, o médio esquerdo Bassu, soube granjear rapidamente a simpatia e a confiança da sua torcida, portando-se com extraordinária firmeza, mesmo nos dias adversos para o conjunto das Laranjeiras.
Ao ser lançado no ‘onze’ principal, para substituir o veterano Bigode, não possuía fama nem parecia em condições de conseguir tornar-se ‘dono’ da posição. Preliando, porém, com entusiasmo próprio da juventude, foi demonstrando aos poucos as suas apreciáveis qualidades de jogador sóbrio e eficiente. E, a esta altura do campeonato, antes mesmo do encerramento da temporada, já deixou amplamente evidenciado que surgiu mais um bom valor no futebol Carioca, fazendo jus a ser incluído no rol das revelações do ano.
Sempre jogando como médio esquerdo, iniciou sua carreira futebolística em 1952, no quadro juvenil de Álvaro Chaves, permanecendo no clube das três cores até o presente. Em 1954, ao ser promovido a equipe de aspirantes, sagrou-se campeão Carioca desta categoria e sentiu a maior emoção de sua vida na tarde em que o Fluminense abateu o Flamengo por 2×1, garantindo praticamente a obtenção do título.
Em 1955, passou a figurar no time de profissionais e sofreu uma grande decepção quando o tricolor foi goleado pelo esquadrão rubro-negro por 6×1.
Como se vê, as suas maiores alegrias e tristezas têm ocorrido após a realização de Fla-Flus sensacionais.
Quando ainda residia em seu torrão natal, Bassu exercia a profissão de auxiliar de construtor. Agora, como valoroso defensor do ‘super-campeão’, é um exímio destruidor de ataques adversários. Como todo valor em ascenção, o médio das Laranjeiras percebe pouco: nada mais do que sete mil cruzeiros. Mas espera assinar um contrato em bases melhores, quando terminar o seu atual compromisso, o que ocorrerá em dia 31 de março próximo. Bassu tem grande admiração por Didi, Zizinho e Nílton Santos, que considera como os ‘cobras’ máximos do nosso futebol. E, compreensivelmente, alimenta o desejo de adquirir sempre novos progressos na carreira que abraçou, a fim de construir solidamente as bases financeiras do seu futuro. Esses são os detalhes principais da vida de um jovem ‘player’, que muito êxito poderá colher nos dias vindouros. Trata-se de um rapaz simples e um profissional dedicado, que já passou pela primeira ‘prova de fogo’ ao aparecer como uma autêntica revelação no ano de sua estreia na divisão principal.”
De 1954 a 1967, defendeu os seguintes clubes: Fluminense (RJ),Guarani (SP),São Bento (SP), Noroeste (SP), Ferroviária (SP) e, finalmente, Paranavaí (PR). Alírio Guazzi, o Bassu, faleceu em 28 de novembro de 2006, em Curitiba – PR.
*** Escalação da foto de capa:
Em pé: Clovis,. Vitor, Lafayete, Duque, Castilho e Bassu
Agachados: Telê Santana, Didi, Atis, Valdo e Escurinho
Abraço a todos e até a próxima se Deus quiser!
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