Heleno de Freitas – 100 anos
HELENO DE FREITAS
Não é exagero falar que Heleno foi o Pelé branco, pois, o craque galã tinha inúmeras qualidades que o aproximavam do Rei do Futebol. Por exemplo: com uma bela impulsão, cabeceava espetacularmente; tinha uma técnica apuradíssima proporcionando passes que colocavam seus companheiros, invariavelmente, na cara do gol; inventou a matada no peito; habilidoso; elegante e goleador. Antes de Pelé, com certeza, foi o melhor.
E todas as vezes que se aproximam datas como 12 de fevereiro (nascimento) ou 08 novembro (óbito) acredito que já escrevi tudo sobre os principais momentos da existência do “galã de chuteiras”. Mas, nestes momentos, descubro que, ainda, tenho muito do que falar.
Sua rápida e marcante passagem pelo Planeta Terra, oscilando entre momentos de glória, glamour e drama, vai além da infância em São João Nepomuceno, onde nas intermináveis ”peladas” no final da Rua Nazareth ou no extinto campo do Mangueira, no largo da Matriz, estava tudo bem se o seu time estivesse ganhando. Mas em caso de resultado adverso, irritava-se, colocava a bola debaixo do braço e a pelada terminava, pois, a bola era dele. Passando, também, pelo infantil do Mangueira Futebol Clube, onde despontava o talentoso jogador de rara categoria, técnica e “intimidade com a pelota”.
Vai além do futebol de areia na praia de Copacabana quando foi descoberto pelo folclórico Neném Prancha, que facilitou sua chegada em General Severiano para um único jogo no ano de 1935, pois, não foi possível conciliar os treinamentos do clube com o horário dos estudos no colégio São Bento.
Vai além da importante passagem pelo Fluminense no ano de 1938. Aliás, importantíssima, pois, se apresentou como jogador de meio campo, e o técnico Uruguaio Carlos Carlomagno vendo sua tremenda vocação de artilheiro, passou a escalá-lo como centro avante.
Vai além de sua volta ao Glorioso Botafogo, para estrear no campeonato carioca de 1940. Substituiu Carvalho Leite (tetra campeão carioca 1932, 1933, 1934 e 1935 – marcou 273 gols em 326 jogos). Heleno entrou no segundo tempo do jogo contra o São Cristóvão, em São Januário. A partida estava zero a zero e terminou com a vitória do Botafogo por 2×0, com dois gols de Heleno (Heleno marcou 209 gols e 235 partidas vestindo a camisa do Botafogo).
Vai além de ser artilheiro do time do Botafogo nos campeonatos cariocas entre os anos de 1941 a 1947, sendo que em 1942 foi o artilheiro do próprio campeonato com 28 gols assinalados.
DETALHE: Após este feito, até o campeonato estadual de 2020, esta marca nunca foi alcançada por nenhum outro jogador do Botafogo. Mesmo tendo sucessores artilheiros como: Dino da Costa, Paulo Valentin, Quarentinha, Garrincha, Amarildo, Roberto Miranda, Jairzinho, Mendonça e Túlio Maravilha. Os que mais se aproximaram da expressiva marca foram: Dino da Costa (24 gols em 1954), Quarentinha (25 gols em 1959 e 60) e Túlio (27 gols em 1995).
*** Vale lembrar que outros jogadores ultrapassaram esta marca, porém, defendendo outros clubes. Por exemplo: Rodrigues do Fluminense, marcou 30 gols em 1946; Ademir de Menezes, no Expresso da Vitória, marcando 31 gols em 1949 e Zico assinalando 30 gols em 1975, todos pelo campeonato carioca. ***
Heleno, ainda, se destacou na seleção brasileira participando de 18 jogos e marcando 15 gols. O melhor momento na seleção brasileira foi no Chile, Sul Americano de 1945, disputado por sete seleções. A Argentina foi a campeã, mas Heleno foi o artilheiro da competição ao lado do Argentino Norberto Méndez, ambos com 6 gols marcados. Nosso craque marcou 1 gol contra a Colômbia(Brasil 3×0), 2 gols contra o Uruguai(Brasil 3×0), 2 gols contra o Equador(Brasil 9×2) e finalizando com o gol da vitória de 1 a zero em cima do Chile.
O Brasil tinha um poderoso ataque: Tesourinha (Internacional-RS), Zizinho (Flamengo), Heleno de Freitas (Botafogo), Jair da Rosa Pinto e Ademir de Menezes (ambos do Vasco da Gama). Este quinteto de atacantes foi considerado por grande parte da imprensa brasileira como o melhor ataque da Seleção Brasileira de todos os tempos.
Na foto abaixo, em 1946, no Sul Americano da Argentina, a colocação se repetiu: Argentina campeã e o Brasil vice. Na oportunidade Heleno marcou 3 gols (2 contra a Bolívia – Brasil 3×0 e 1 gol contra o Uruguai – Brasil 4×3).
Também, participou da conquista do tri campeonato da seleção carioca (44, 45 e 46), na época, disputado entre seleções de diversos estados do Brasil. Na foto abaixo, a seleção carioca de 1946.
Hoje, nesta modesta homenagem, resolvi destacar sua passagem pelo Clube de Regatas Vasco da Gama, fato pouco divulgado pela imprensa brasileira, na minha visão.
No ano de 1949, Heleno de Freitas retornava da Argentina, onde defendeu o Boca Juniors, para brilhar no “Expresso da Vitória”, campeão carioca daquele ano. Das 20 partidas disputadas pelo Vasco, Heleno atuou em 12 e marcou 10 gols.
A autoria do texto abaixo é de Alexandre Mesquita e Jefferson Almeida.
Vasco contrata Heleno de Freitas.
…“A perda do título carioca para o Botafogo ficou engasgada na garganta dos vascaínos. Como de praxe, a diretoria tratou de se mexer para montar um elenco ainda melhor. Para começar foi buscar justamente o ídolo botafoguense, Heleno de Freitas, no Boca Juniors. O craque, que jamais ganhou um título pelo clube da estrela solitária, teria agora a chance de levantar a taça do Carioca, um duro golpe aos alvinegros que se vangloriavam de ter superado no ano anterior o melhor time da América…
Estréia do Heleno.
… O Expresso encara o poderoso Arsenal em São Januário, no jogo que foi considerado à época como um encontro de gigantes. O time inglês, em visita à América do Sul, estava até então invicto.
Essa partida marca a estréia de Heleno com a camisa vascaína que entra no segundo tempo no lugar de Ipojucan, o que tornou o Vasco mais perigoso. Com pouco mais de meia hora de jogo, o ex-botafoguense recebe e toca rápido para Nestor. O ponteiro cruza, a bola encobre o goleiro, toca na trave e morre no fundo do barbante. Os ingleses procuram a reação, mas o time da casa se defende e segura mais uma bela vitória.
A preparação para o Carioca segue e o Vasco encara o Rapid Viena, que também estava viajando pelo Brasil, em São Januário. Era um grande desafio enfrentar o chamado futebol clássico europeu. A dupla Heleno – Ademir parecia se entender às mil maravilhas e junta arrasou o time de Happel e Binder. Com menos de dez minutos, Nestor cruza e Heleno abre o marcador. Ademir aumenta na metade da primeira etapa. Heleno faz mais um antes de o juiz encerrar o período inicial. No início do segundo tempo, Ademir faz o quarto e Heleno encerra o passeio. Brasil, ou melhor, Vasco, 5; Áustria, quer dizer, Rapid, 0.
O Carioca teve início, e a estréia foi um arraso: o São Cristóvão não esperava sofrer tanto. Heleno foi a maior figura em campo, marcando dois dos onze gols da impiedosa goleada sobre o time cadete. E ele ainda armou a jogada de outros seis tentos. Pouco se fala da passagem do maior galã do futebol daquela época pelo Expresso. Está certo que ele não jogou em boa parte da temporada. Mas, nas vezes em que esteve em campo, atuou com a mesma categoria e faro de gol de sempre. Sua fase no Vasco foi até bem tranquila, com poucas explosões do seu já conhecido temperamento. Nessa partida, ele parecia feliz, mesmo quando não recebia a bola dos companheiros. Jogando solto, descontraído, com uma alegria verdadeira em jogar futebol. Sua participação no título foi fundamental: marcou dez gols em doze jogos. E foi atuando nesse grande Expresso que Heleno conseguiu levantar (merecidamente) seu único título de campeão carioca.
Contra Bonsucesso e Bangu, nas rodadas seguintes, o Expresso encarou os chamados alçapões dos subúrbios cariocas. Venceu com dificuldade o Rubro-Anil por 2 a 1, mas deixou um pontinho no empate em dois gols no estádio Proletário. Nesse jogo, a dupla Heleno – Ademir funcionou novamente, com cada um marcando uma vez. Após a goleada de 6 a 0 sobre o Canto do Rio, o Vasco encararia o Tricolor nas Laranjeiras, mas sem a presença de Heleno. O craque só voltaria a atuar em um amistoso contra o Tupi. No Carioca, só retornaria ao time no returno.
Com Heleno de volta no returno, as goleadas reaparecem. São Cristóvão, Bangu e Canto do Rio levam quatro cada um. Já o Bonsucesso, levou o dobro: 8 a 1 foi o massacre!
O América não pensava nem de longe em devolver a acachapante derrota do primeiro turno, mas fez uma partida duríssima na rodada seguinte do campeonato. Maneco de cabeça faz o primeiro do Vasco. Após boa troca de passes entre Heleno e Nestor, Ademir aumenta. Na etapa final, Chico recebe excelente passe de cabeça de Heleno e aumenta…
… Mais uma vez o Almirante iria encarar seu maior rival. Tentava manter não só a liderança, como também a invencibilidade. O time da Gávea domina o começo do clássico. No retorno do intervalo, o time cruzmaltino vem diferentemente armado. Heleno é recuado para armar o jogo e Ademir fica mais enfiado na área. Em um chute do Queixada, a bola toca no montinho artilheiro e vai se aninhar no fundo das redes. O gol deixa os flamenguistas abatidos. Aos poucos, vão tentando se reencontrar, porém, Barbosa fica intransponível e faz duas ótimas defesas. Do outro lado, em jogada de Chico, Ademir recebe, gira rápido e com um tiro seco e mortal vira o placar. Faltando quatorze minutos, Alfredo é atingido por uma garrafa. Há invasão de campo e paralisação. Somente depois que os ânimos são restabelecidos, a partida se reinicia.
O Fla ensaia uma pressão, mas sem resultado. O Expresso da Vitória se aproxima cada vez mais da taça.
Um triunfo diante do Madureira, no alçapão de Conselheiro Galvão, daria antecipadamente a conquista ao Esquadrão das Américas. E foi o que aconteceu.
O time cruzmaltino não toma conhecimento do Tricolor Suburbano e vence por 3 a 1.
Os vascaínos faziam nas arquibancadas e que se espalharia em pouco tempo pela Cidade Maravilhosa.
Vasco campeão invicto do carioca de 1949.
Abraço a todos e até a próxima, se Deus quiser.
No Comments