HELENO DE FREITAS! 60 Anos sem o Craque Galã.
“ Morreu Heleno “
Esta foi uma das manchetes do respeitado e centenário jornal Voz de São João em sua edição do dia 15 de novembro de 1959. Portanto, uma semana após a morte de Heleno de Freitas, que acontecera em 08 de novembro de 1959. A matéria continua com o seguinte texto:
“ Foi a notícia dolorosa que ecoou lúgubremente por toda a cidade ao entardecer de domingo último (08.11). Sim, Heleno, o mais discutido “crack” do futebol brasileiro. Heleno, o temperamental, o “crack” que dava tudo de si em defesa da camisa que vestia, terminara sua odisseia pela terra, enfrentando a sua derradeira partida numa luta que se iniciara no ano de 1954 quando de seu internamento na Casa de Saúde São Sebastião, em Barbacena, encerrando-a naquela trágica tarde de domingo.
08 de novembro de 1959, quase à hora costumeira do término das partidas pebolísticas disputadas pelo Brasil afora. Sim, morrera Heleno, finando-se assim a vida do mais famoso jogador de futebol que pisara os campos do Brasil. Heleno, o insubstituível, Heleno, o “crack” que nos faltou na decisão do campeonato mundial de futebol, que tivera por palco, no ano de 1950, o colosso do Maracanã(…) ”
Neste 08 de novembro de 2019, estamos completando 60 anos do desaparecimento de Heleno de Freitas. A seguir você terá a oportunidade de ler um pequeno resumo dos fatos que fizeram de Heleno de Freitas o principal astro do futebol brasileiro, antes da era Pelé. Mais detalhes da do glamour, das glórias e dos dramas vividos por Heleno, você terá no livro “São João Nepomuceno um cantinho de Minas e seus talentos esportivos“, de minha autoria e Eduardo Ayupe, que destacará vários talentos esportivos de nossa Terra e será lançado em breve.
Heleno nasceu em São João Nepomuceno-MG, no dia 12 de fevereiro de 1920, portanto em 2020 completaremos 100 anos de seu nascimento. Era filho de Oscar de Freitas e Maria Rita de Freitas, a Dona Miquita. Heleno nasceu em casa, visto que ainda não existia o Hospital São João, fundado em 1923. Mas, utilizando-se do valoroso arquivo do Jornal Voz de São João, ainda na edição de 15 de novembro de 1959, lia-se o seguinte: ‘Seu nascimento ocorreu na “Chácara”, de propriedade da família, na rua do Cajangá, hoje pertencente a D. Esmeralda Araújo Valente(…)’ (Esmeralda Furtado de Mendonça)
Na sua infância e adolescência, Heleno jogou no Mangueira de nossa cidade e no Botafoguinho, time de praia comandado por Neném Prancha, um revelador de talentos no futebol de areia do Rio de Janeiro. Nesta época Heleno já estava residindo na cidade maravilhosa na companhia de sua mãe e irmãos. Para integrar o elenco dos grandes do Rio foi uma questão de tempo. Primeiro o Fluminense, em 1938, e depois o Botafogo a partir de 1939. De 1940 a 1947 Heleno foi o principal jogador do Botafogo. No ano de 1942, foi o artilheiro do Campeonato Carioca, marcando 28 gols. Marca nunca ultrapassada até os dias atuais e sequer igualada por nenhum outro jogador do Botafogo. Vale lembrar que Heleno teve sucessores como: Dino da Costa, Paulo Valentim, Quarentinha, Amarildo, Jairzinho, Roberto Miranda e Túlio Maravilha. O que mais se aproximou do “craque galã” foi Túlio Maravilha ao marcar 27 gols no Carioca de 1995.
O ano de 1944 foi muito importante para Heleno. Aos 24 anos, teve sua primeira convocação para a Seleção Brasileira. No Botafogo, era o capitão e o principal articulador das jogadas de ataque do time alvinegro.
No dia 10 de setembro deste mesmo ano, foi peça fundamental ao marcar 2 gols na histórica vitória do Botafogo sobre o Flamengo por 5 a 2, em General Severiano. Existem relatos referindo-se a este jogo, onde os jogadores do Flamengo, não concordando com a marcação do quinto gol alvinegro, teriam assentado em campo até o apito final do árbitro. Esta partida ficou caracterizada como o “jogo do senta“.
Em 1945 Heleno foi convocado para defender o Brasil no Sul-Americano que seria realizado em Santiago do Chile. O Brasil não conquistou o título de campeão, mas Heleno foi o artilheiro da equipe, tendo marcado 7 gols. A linha de frente era composta por Tesourinha (Internacional-RS), Zizinho (Flamengo), Heleno (Botafogo), Jair da Rosa Pinto e Ademir de Meneses (ambos do Vasco da Gama).
Esse ataque foi considerado por muitos como o mais poderoso que a seleção brasileira já teve. Pelo desempenho no Sul-Americano, Heleno recebeu de Ari Barroso o apelido de “Diamante Branco”, pois já existia o Diamante Negro, Leônidas da Silva.
No ano de 1946, Heleno conquistou o vice-campeonato defendendo a seleção brasileira no Sul-Americano disputado na Argentina.
E, por falar em Argentina, aproveito para registrar uma passagem do Heleno com o Mário Vianna. É sobre essa época uma entrevista concedida por ele à Revista Placar, respondendo a uma pergunta sobre o tempo em que atuava como árbitro:
Placar – Quais os jogadores mais catimbeiros do seu tempo?
Vianna – Um deles era Heleno de Freitas. Muito meu amigo, mas dentro de campo era outra coisa; cheio de manhas. Uma vez pedi que ele me trouxesse da Argentina um disco do tango Uno, música que acabara de ser lançada. Ele voltou da Argentina, passou um mês e nada de me entregar o disco. Num belo dia, o Botafogo foi jogar contra o São Cristóvão no campo do Vasco. Na hora de assinar a súmula, ele vem e me entrega o disco. Começado o jogo, para não deixar dúvida, adverti na primeira; na segunda botei pra fora, aos 16 minutos do primeiro tempo.
Fonte: Revista Placar – nº 801 de 27 de setembro de 1985
Infelizmente, devido à 2ª Guerra Mundial, não aconteceram as Copas de 42 e 46 em que, certamente, Heleno estaria presente. E, com certeza, se tornaria ainda mais conhecido internacionalmente.
Seleção Brasileira 1946 – Em pé: Norival, Ary, Domingos da Guia, Ivan, Ruy Campos, Jayme de Almeida e Hermógens(ropeiro). Agachados: Lima, Zizinho, Heleno, Jair Rosa Pinto e Ademir Menezes.
Naquela época, conforme registra o livro “Nunca Houve um Homem como Heleno”, o craque frequentava a “alta sociedade” carioca. O italiano De Cicco, alfaiate do Presidente Getúlio Vargas, é quem produzia os ternos que o craque usava. Na noite carioca, quando Heleno adentrava as instalações da Boate Vogue, o pianista Sacha Rubin parava o que estava tocando para dedilhar My Foolish Heart (Meu coração insensato) que era a canção preferida do craque. No mesmo instante, todos os presentes tinham a confirmação de que Heleno acabara de chegar.
Em 1948 o Botafogo vendeu Heleno ao Boca Juniors da Argentina. Em sua estreia marcou dois gols na vitória de 3×0 sobre o Club Atlético Banfield, pelo campeonato Argentino. Heleno ficou aproximadamente 1 ano no Boca e retornou ao Brasil para defender o Vasco da Gama. Ele que é sempre lembrado como jogador do “Glorioso” Botafogo de Futebol e Regatas, chega ao Rio de Janeiro para integrar o elenco do “Machão da Gama, que havia formado uma equipe fortíssima. Com o “Expresso da Vitória”, o Vasco foi o grande campeão de 1949. É o único título de campeão carioca que Heleno conquistou.
Vasco: Em pé: Barbosa, Danilo, Augusto, Wilson, Eli, e Alfredo. Agachados: Maneca, Ademir, Heleno, Ipojucan e Mário. No detalhe, acima: Laerte e abaixo: Sampaio, Jorge, Nestor, Lima e Chico.
No primeiro trimestre de 1950, Heleno foi para a Colômbia defender o Atlético Júnior de Barranquilla. “Voz de São João” em sua edição nº 661 de 12 de março de 1950, publicou a seguinte matéria:
“Heleno seguiu para a Colômbia – Despede-se de seus conterrâneos o discutido crack do futebol brasileiro
Conforme noticia a imprensa do Rio, seguiu quinta-feira da semana finda para a Colômbia, em cujo futebol vai ingressar, o renomado internacional Heleno de Freitas(…).
Acredita-se que, por causa de um desentendimento entre Heleno e Flávio Costa, técnico do Vasco e da seleção brasileira, nosso craque tenha ficado fora da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil.
Na Colômbia heleno defendeu o Júnior Barranquilla, e em 1951 Heleno retorna ao Brasil para uma rápida passagem pelo Santos e, em seguida, encerrar sua carreira no América do Rio de Janeiro. Em 04 de novembro de 1951, pisou no gramado do Maracanã pela primeira e última vez como jogador profissional. Também, vestiu a camisa do América pela primeira e única vez.
“Era a última condução de bola com extrema elegância; o último passe de categoria; o último descontrole depois de mais um passe errado do colega de time; a última expulsão; o apito final!
Ainda no vestiário, no bate bola de aquecimento, dando mostras que o “filme chegara ao fim”, Heleno se desentende com Dimas. Partida iniciada, pouco mais de 25 minutos da primeira etapa, o craque discute com Tórbis sendo expulso de campo pelo árbitro Alberto da Gama Malcher. O time rubro, já sem chances ao título, foi derrotado pelo temido São Cristóvão por 3×1.”
Fonte: Livro: “Maracanã meio século de paixão” – João Máximo
Editor: Alexandre Dórea Ribeiro.
Abraço a todos e até a próxima se Deus quiser!
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