Um herói de guerra são-joanense (Taruaçu) e sua emocionante história
“José Gomes Filho nasceu em 22 de dezembro de 1917 na cidade de São João Nepomuceno, Estado de Minas Gerais, sendo filho de José Gomes Sampaio e de Olímpia Lopes de Faria.
Casou-se com Maria de Lourdes Gomes (foi professora e diretora do Grupo Escolar de Taruaçu), com quem teve cinco filhos: Paulo Roberto Gomes (Engenheiro Civil e Empresário), Francisco José Gomes (Engenheiro Eletricista e Professor na Universidade Federal de Juiz de Fora — UFJF), Luiz Adauto Gomes (Médico em Ituiutaba no Triângulo Mineiro), Antônio Carlos Gomes (Engenheiro Sanitarista) e Márcio José Gomes (Contador, Economista e Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil), treze netos Paulo, Fernando, Marcelo, Luiz Henrique, Vitor, Pedro, Leandro, Bruna, Leonardo, Luciano, Lilian, Laura e Maísa e um bisneto Antônio Caetano.
José Gomes Filho faleceu em 04 de fevereiro de 2009, dois meses após o falecimento de sua esposa ocorrido em 02 de dezembro de 2008.
Gomes Filho ficou órfão de pai e mãe ainda jovem, mudando-se, então, para a cidade do Rio de Janeiro, onde moravam alguns tios, ingressando ali no serviço militar, tendo exercido suas atividades nesta cidade e no Nordeste do país, no estado da Paraíba.
Eclodindo a Segunda Guerra Mundial, o Brasil deu sua contribuição à defesa dos ideais democráticos participando das Forças Aliadas. Foi criada então a Força Expedicionária Brasileira — FEB e o então cabo José Gomes Filho esperava ansiosamente o momento do embarque para poder participar na Europa do esforço de guerra.
O Cabo José Gomes Filho no aguardo do embarque no navio com destino à Itália foi surpreendido com a notícia de que alguns soldados permaneceriam no Brasil, haja vista o excesso de contingente, dentre os quais o Cabo José Gomes Filho estaria incluído dentre os quais permaneceriam.
Diante de tal acontecimento o Cabo José Gomes Filho sentiu-se obrigado a tomar uma decisão inusitada a qual o transformou em combatente voluntário, ou seja, visualizou a curta distância o Marechal Henrique Lott que coordenava o embarque das tropas e, mesmo quebrando a hierarquia, aproximou-se do Marechal, travando com o mesmo um diálogo que resultou na expedição de uma ordem para que o mesmo fosse embarcado que assim, espontaneamente, partiu para a luta em terras estrangeiras, para o combate ao nazi-fascismo, defendendo o ideário democrático pelo qual lutava nosso país.
Lutando contra o inimigo foi ferido no dia 09 de janeiro de 1945, em Volpara, em um sangrento episódio que ficou conhecido como “Golpe de Mão”, desfechado exatamente neste dia sobre as posições ocupadas pelo 3° Batalhão do 6° Regimento de Infantaria, onde ele servia e já ocupava o posto de 3° Sargento. Foi um ataque rápido e brutal, que surpreendeu as sentinelas brasileiras, pondo em perigo todo o dispositivo de segurança da infantaria.
Após a luta, quando os alemães foram rechaçados, restaram inúmeros mortos em um confronto direto haviam recebido uma rajada de metralhadora. Ferido, combateu enquanto teve forças, até que, exaurido, caiu sobre a neve no fundo de um barranco, inconsciente. Logo, passou uma patrulha de soldados brasileiros que, vendo-o naquele estado, julgaram-no morto e não pararam. Ocorreu que um soldado de nome Paulo reconheceu-o e disse aos companheiros que, mesmo estando o sargento morto não o deixaria ali, mas levaria o corpo de volta ao acampamento, obrigando a patrulha a retornar e efetuar seu resgate, quando então verificaram que, embora inconsciente, estava vivo . Ficou hospitalizado por algum tempo, sendo depois transferido para um hospital nos Estados Unidos. Terminada a guerra voltou ao Brasil ainda convalescente, sendo obrigado, durante um bom tempo, a usar muletas para se locomover.
Ficando a guerra para trás, foi reformado em razão dos ferimentos em combate, impossibilitado de continuar no Exército, o então reformado Tenente José Gomes Filho retorna ao distrito de Taruaçu, em São João Nepomuceno, para dar continuidade à sua vida.
Diante de vários atos de heroísmo praticados pelos soldados brasileiros o Comandante da Força Expedicionária do Brasil — FEB, Mascarenhas de Moraes, em sua citação fez uma distinção em relação ao Sargento José Gomes Filho que “mesmo ferido dirigiu um Grupo de Combate contra tropas inimigas que avançaram já dentro de nossas linhas, demonstrando exata compreensão do seu dever”. Por isto, além da Medalha de Campanha e outras, é detentor da Medalha Sangue do Brasil, que só é outorgada ao combatente que derramou seu sangue lutando no campo de batalha.
Em janeiro de 1947 o Homenageado casou-se e ao seu primeiro filho, de um total de cinco, deu o nome de Paulo, numa homenagem simples, mas sincera àquele soldado amigo que o socorrera naquele fatídico “Golpe de Mão”.
Com o crescimento dos filhos sabia da necessidade de pensar no futuro, dando aos mesmos condição de estudo, foi obrigado a deixar sua terra natal para mudar com toda sua família para Juiz de Fora, sem contudo cortar os vínculos com o seu distrito de Taruaçu.
Chegando em Juiz de Fora, não se descuidou de sua visão comunitária, de suas preocupações com aqueles valores pelos quais lutara, e da importância de sua preservação para as gerações presente e futuras, participou da instalação da “Associação dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira — FEB, Seção de Juiz de Fora”, sendo por isto considerado “Pioneiro”, tendo partipado diversas vezes da diretoria, colaborando efetivamente para a manutenção desta página de nossa história que, embora triste pelo desaparecimento de vidas, deve ser sempre lembrada não só como advertência aos riscos do totalitarismo, mas pelo fato maior que estas vidas foram sacrificadas em defesa dos ideais democráticos.
Consciente destes importantes aspectos, frequentou e colaborou sempre com sua Associação, participando dos desfiles de 07 de Setembro, exibindo com muito garbo e amor as suas medalhas, bem como as comemorações das datas caras aos pracinhas como “Tomada Montese”, “Formovo”, “Camaiore” e outras, mantendo viva parte de nossa história.
Para terminar citamos aqui os dizeres de um cartão postal, escrito pelo Homenageado, exatamente na véspera de ser ferido:
“08 de janeiro de 1944. Era uma noite muito escura, a temperatura estava a 14 graus abaixo de zero. Não se enxergava a 5 metros de distância. A noite estava calma sob a ameaça do inimigo; ouvia-se a todo instante a troar dos canhões de nossa artilharia na direção do inimigo. Terminei o meu quarto de hora às 23 horas. Antes de deitar fumei um cigarro “Camel”. Terminei o cigarro, fiz minhas orações, mas não pude dormir logo devido aos pés estarem gelados”.
TEXTO QUE CONSTA NA JUSTIFICATIVA DE UM PROJETO DE LEI NA CÂMARA MUNICIPAL DE JUIZ DE FORA, CONCEDENDO DENOMINAÇÃO DE RUA NAQUELA CIDADE AO EXPEDICIONÁRIO JOSÉ GOMES FILHO, NO BAIRRO BARBOSA LAGE (LOTEAMENTO PARQUE DAS TORRES. O PROJETO DE LEI Nº 110/2015 TEVE COMO AUTOR O VEREADOR DR.ANTÔNIO AGUIAR, PROJETO ESTE QUE SE TORNOU A LEI Nº 13.309, DE 11 DE FEVEREIRO DE 2016, SANCIONADA PELO ENTÃO PREFEITO BRUNO SIQUEIRA.
Por seu ato de heroísmo e os ferimentos sofridos em combate na 2ª Guerra Mundial o tenente José Gomes Filho (Sampaio) recebeu a Medalha de Sangue do Brasil (foto)
Em São João Nepomuceno José Gomes Filho foi vereador por dois mandatos ( de 31 de janeiro de 1959 a 31 de janeiro de 1963 e de 31 de janeiro de 1963 a 31 de janeiro de 1967), representando o distrito de Taruaçu.
No ano de 2011 um Projeto de Lei de “Denominação de Logradouro Público” homenageando o Tenente José Gomes Filho (Sampaio), de iniciativa do então vereador, Dr.Gabriel Verardo Loures, foi aprovado pelo plenário da Câmara Municipal de São João Nepomuceno e sancionado pela então prefeita Edmea Moreira Machado, transformando-se na Lei nº 2737, de 11 de março de 2011.
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