Bicas se une no Dia Mundial de Conscientização do Autismo: uma luta por acolhimento, respeito e inclusão
O dia 2 de abril é mais que uma data no calendário. Instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 2007, o Dia Mundial de Conscientização do Autismo é um chamado global para o acolhimento, respeito e inclusão das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Em Bicas (MG), mães, representantes do poder público e entidades se reuniram em um movimento marcante, com roda de conversa, caminhada e depoimentos emocionantes que destacaram a urgência de políticas públicas eficazes para essa população.
A presidente da Associação Vida Viva, Cláudia Fagundes, abriu o evento com um apelo direto às autoridades. “Queremos que os três poderes — Executivo, Legislativo e Judiciário — entendam nossa dor. O autismo não é moda. É uma realidade dura, mas também cheia de amor e aprendizado”, disse Cláudia, emocionada ao lado do filho, Leonardo, que é autista e não verbal.
Cláudia ressaltou as dificuldades diárias enfrentadas por mães e pais de autistas: desde a falta de terapeutas e profissionais capacitados, até o preconceito da sociedade e o descaso de algumas autoridades locais. “Hoje em dia, lutamos não apenas pelos direitos dos nossos filhos, mas também para sermos ouvidas. Muitas vezes somos vistas como ‘as chatas’ por cobrarmos o que é de direito. Mas é disso que nossos filhos precisam para evoluírem”, desabafou.
A falta de profissionais preparados, inclusive dentro das instituições públicas, foi outro ponto de crítica. “Cada autista é único. Uma abordagem que funciona hoje pode não funcionar amanhã. Não existe receita pronta. Precisamos de acolhimento, e isso começa por capacitação e empatia”, reforçou.
Durante o evento, representantes da Câmara Municipal também estiveram presentes. O vereador Diogo Muniz destacou a importância de ações contínuas, não apenas no mês de abril. “É uma luta diária. A associação Vida Viva tem feito um trabalho incrível com oficinas, psicólogos e ações inclusivas. Nosso mandato está à disposição”, declarou.
Outro nome presente foi o vereador Max, que citou o projeto Casa Azul, voltado para o atendimento de crianças neurodivergentes. “Estamos em diálogo com o Executivo para ampliar a equipe e melhorar o suporte. Essas mães guerreiras merecem todo o nosso apoio”, afirmou.
O advogado Haroldo Matos, presidente da Comissão dos Direitos dos Autistas da OAB de Bicas, também marcou presença. Segundo ele, além da luta contra o preconceito, é preciso garantir que os direitos das pessoas com TEA sejam conhecidos e respeitados. “A legislação existe, mas muitos ainda não conhecem seus direitos. A OAB está aqui como rede de apoio, oferecendo informação e suporte jurídico.”
A ausência do prefeito no evento foi sentida por muitos dos participantes, incluindo Cláudia, que lamentou a falta de envolvimento direto da autoridade máxima do município. “Convites foram enviados, mas a presença dele, que seria simbólica e essencial, não aconteceu. Sentir na pele o que vivemos poderia transformar essa realidade”, pontuou.
A mobilização contou ainda com apoio da Polícia Militar para garantir a segurança durante a passeata, e com a presença de moradores, mães, pais, profissionais de saúde e educação. A diretora da fisioterapia municipal falou sobre o aumento no número de diagnósticos e a importância da fisioterapia aquática como forma de tratamento complementar.
Além dos discursos e da caminhada, o evento também serviu como espaço de troca e fortalecimento entre mães de autistas. “Quando estamos unidas, somos mais fortes. Precisamos dar as mãos, lutar juntas por um futuro com mais empatia, respeito e oportunidades para nossos filhos”, finalizou Cláudia.
Em Bicas, o azul não foi apenas a cor que simbolizou o autismo neste 2 de abril — foi também a cor da esperança por dias melhores, onde o amor, o acolhimento e os direitos caminhem lado a lado.
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